Silver Linings Playbook é um filme baseado no livro homónimo de Mathew Quick e está nomeado para oito Óscares da Academia. Em português foi denominado de Um Guia para um Final Feliz.É dos mais originais e estranhos que já vi. Aborda cuidadosamente a doença psiquiátrica sem cair no dramatismo excessivo mas também não é totalmente supérfluo. Toca-nos porque nos lembra daquelas pequenas e ridículas obsessões e superstições que todos temos, ao mesmo tempo que, nos distancia o suficiente para que nos apercebamos o quão evidente é o sofrimento que os distúrbios do humor trazem aos que deles padecem. O realizador David.O Russell tem um sentido de oportunidade fantástico conjugando os diálogos e o argumento impecáveis com sequências verdadeiramente singulares sem grandes artefactos. A maneira como o filma dá-nos aquela sensação de omnipresença como se nós, por um momento, fôssemos as personagens.É tremendamente demolidor assistir aos efeitos da doença mental. Não são apenas discutidos, são atrozmente sentidos contudo, a metragem que não carece de humor. É genuinamente e absurdamente engraçado porque os protagonistas Pat e Tiffany não têm inibições ou filtros como os meros mortais ou seja, as suas conversas e acções são tão honestas que, às vezes, atingem o hilariante sem cair na vulgaridade. Bradley Cooper (Pat) e Jennifer Lawrence ( Tiffany) beneficiam ainda de uma química orgânica e estonteante. Cooper é perturbador na sua interpretação de um doente bipolar com as suas alterações de humor repentinas que afectam profundamente o seu mundo. As mudanças subtis que ele incute ao personagem são belíssimas. Por exemplo, Pat é comprometido fervorosamente a um lema positivo e repete-o constantemente como se o ajudasse a encontrar o seu amor pelo seu ser com todas as suas particularidades e Bradley Cooper é tão expressivo que sentimos a sua luta interior e lhe desejamos o melhor. Jennifer Lawrence não é de todo inferior. Ela dá a vida a Tiffany dotando-a de imprevisibilidade, teimosia e de uma firmeza inabalável. É uma presença marcante daquelas que jamais passariam despercebidas! A interacção entre ambos é notável... Outro actor que não poderia ficar sem ser mencionado é Robert de Niro. Que ele é um intérprete fenomenal, já eu sabia todavia, neste filme sobressai-se do elenco secundário. Os seus últimos trabalhos foram algo banais o que não esconde o actor supremo que ele é. Neste filme, ele, pai de Pat, é comovente e arrebatador! Para mim, De Niro tem das melhores cenas do filme especialmente, quando se dirige ao filho e transparece também ele, uma vulnerabilidade ao lidar com a sua compulsão obsessiva e com as suas consequências.
Eis um filme que nos recorda de que há sempre esperança, que somos todos diferentes mas, todos sem excepção temos uma chance em sermos felizes. E mesmo no meio das ruínas deixadas pela doença há amor, ternura e risos. Quando não temos nada a perder, somos mais autênticos e emergimos dessa situação difícil mais sábios e combativos.
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