domingo, 21 de outubro de 2012

O Leão Escarlate de Elizabeth Chadwick

Amor, traição, vingança. O novo livro da romancista histórica mais vendida em Inglaterra. 

A coragem e lealdade de William Marshall como cavaleiro ao serviço da casa real inglesa foram recompensadas com a sua união a Isabelle de Clare, uma rica herdeira de propriedades na Inglaterra, Normandia e Irlanda. Mas a segurança e felicidade do casal são destruídas quando o rei Ricardo morre e é sucedido pelo irmão João, que toma os filhos de Marshal como reféns e apropria-se das suas terras. O conflito entre os que permanecem leais e os que se irão revoltar contra as injustiças ameaça destruir o casamento de William e Isabelle e arruinar as suas vidas. William terá que optar por um caminho desesperado que o poderá levar à governação do reino. E Isabelle, receando pelo homem que é a luz da sua vida, terá que se preparar para enfrentar o que o futuro lhes reserva.

A MINHA OPINIÃO:

O Leão Escarlate é o segundo volume de Elizabeth Chadwick sobre William Marshall, figura histórica de vulto do fim do século XII e início do século XIII. O primeiro volume não está publicado em Portugal com muita pena minha porque a julgar pela grande qualidade de O Leão Escarlate merece ser lido. Marshall conviveu com Ricardo I de Inglaterra, o célebre Coração de Leão e o seu não menos famoso irmão, João sem terra. A escritora é hábil em romancear a vida daquele que foi considerado um dos melhores cavaleiros na história de Inglaterra. A maioria dos grandes acontecimentos são verídicos como o desaparecimento misterioso do príncipe Artur ou a divisão dos barões no apoio à coroação de João porém, Elizabeth Chadwick não é uma historiadora aborrecida. Pelo contrário, tem uma escrita entusiasta apesar das longas descrições que usa para contextualizar o leitor. Estas essenciais para nos orientar! São um mapa de genealogia e uma visão minuciosa da corte e do quotidiano daqueles tempos tão distintos dos nossos. O papel da mulher também é escrutinado e são estabelecidas comparações lisonjeadoras ou pejorativas consoante o casal em questão. Isabelle de Clare, mulher de Marshall é uma mulher forte, determinada e é ouvida pelo marido que não a rebaixa ou a menoriza. A relação dos protagonistas é de grande cumplicidade e de grande compreensão o que não impede que ela discorde dele e vice-versa. Contudo, eles contrastam com a maioria dos casamentos de conveniência da corte em que a mulher era uma mera moeda de troca. A história expande-se por várias décadas e William Marshall é uma personagem apaixonante. É homem de honra, dedicado à família e à nação e um brilhante estratega militar e sagaz conhecedor da corte. Porém, também é marido, pai e responsável pelos inúmeros habitantes das suas terras. A maneira como ele joga politicamente sem macular a sua dignidade é algo de extraordinário! Claro que Isabelle também é uma grande mulher e de grande carácter  o que dá um tom de harmonia à relação mas também ao livro. Se Marshall impressiona pela sua determinação e lealdade aos seus princípios, o que dizer de João, irmão de Ricardo? Sempre foi uma figura controversa e mal-amada na literatura e no imaginário popular como podemos a atestar nas histórias de Robin dos Bosques ou de Ivanhoe todavia, Elizabeth Chadwick dá-lhe uma nova roupagem. Não encaixa na categoria de "bom da fita" contudo, não é tão irracionalmente cruel como o pintam. Sim, é impiedoso e muitas vezes, terrível mas, os seus actos são justificáveis ou pelo menos compreensíveis porque a escritora dá-nos a documentação suficiente para os entender. A sua insanidade e paranóia não têm moral porém, têm causa. Elizabeth Chadwich constrói um livro de ficção histórica verdadeiramente delicioso de se ler e em certa medida, enriquecedor para quem não conhece esta época conturbada.

5/7-MUITO BOM

domingo, 14 de outubro de 2012

Devaneios à Solta... O Leão Escarlate de Elizabeth Chadwick

Hoje o protagonista desta rubrica é O Leão Escarlate de Elizabeth Chadwick:

 Jardim Júlio Castillo, Miradouro de Santa Luzia, Lisboa 
(foto da minha autoria)

" William enfiou a mão nas pegas do seu escudo.(...)Algo tinha de ser feito e depressa. Se não conquistassem o topo daquelas muralhas, iriam ter de escolher entre sentar-se e esperar que aqueles desgraçados morressem à fome e entreterem-se a curar a sua dignidade ferida... e o Rei Ricardo não tinha paciência nem feitio para nenhuma das duas hipóteses. Não podia dar-se ao luxo de esperar nem podia dar-se ao luxo de perder."  pág. 12

in O Leão Escarlate de Elizabeth Chadwick

Terminei a leitura deste livro esta semana. A crítica sai em breve.

sábado, 6 de outubro de 2012

A Dama das Camélias de Alexandre Dumas, Filho

Marguerite Gautier, cortesã, é uma amante sustentada por alguns dos homens mais ricos de Paris. O seu hábito de levar sempre uma camélia branca quando vai à ópera ou ao teatro vale-lhe a alcunha de «Dama das Camélias». Vive uma vida de luxo e dissipação, mas no seu coração escondem-se as sombras de uma melancolia discreta e persistente. Até que conhece o jovem idealista Armand Duval, cuja paixão intensa lhe devolve a fé no amor... Mas será possível amar contra todos os preconceitos e convenções? Acima de tudo, será possível amar quando o amor pode custar a própria vida de quem ama? Marguerite Gautier, que Verdi transformou na Violetta Valery de La Traviata, e a quem deram rosto actrizes como Greta Garbo e Sarah Bernhardt, é um dos ícones da feminilidade no século XIX.A Dama das Camélias é, ainda hoje, uma das mais comoventes e originais histórias de amor da literatura universal.

A MINHA OPINIÃO:

A Dama das Camélias é um livro pequeno contudo, tem uma intensidade tão duradoura quanto o amor que é perpetuado para eternidade nas suas páginas. É um amor desmesurado quase obsessivo que inevitavelmente levará a tragédia. Logo, de início somos confrontados com essa realidade pois, o narrador é confidente de Armand Duval, a paixão de Marguerite Guantier, a dama das camélias. Não diminuiu em nada a minha vontade de o ler pelo contrário, adorei esta maneira de contar a história. O narrador é uma miscelânea de personagem com o próprio escritor. Encontra-se uma certa mágoa na sua narrativa e quicá, um senso de justiça social e ironia velados. Como apraz ao período do romantismo, esta obra carrega um exagero de emoções, sentimentos e situações. O amor imensurável de Armand, a doença obscura de Marguerite  e o luxo e a depravação do ambiente circundante compõem A Dama das Camélias. É um retrato satírico da hipocrisia de aparência da sociedade parisiense que apregoava mas, não praticava o lema Igualdade,  Liberdade e Fraternidade. Uma cortesã pode amar por dinheiro e ser amante mas nunca pode ser mulher mesmo que se arrependa dos seus pecados. Dumas é incrível a contar esta história. É tão dilacerador e tão ardente que parece que foi ele que a viveu e a sentiu! Pelo caminho, pinta o quadro de decadência de uma cidade em contradição onde  os ricos vivem de rendas extorquidas aos pobres e as gastam na luxúria e na opulência sendo no entanto, teoricamente fiéis à fé e generosidade cristã. Assim, esta obra é muito mais que um amor trágico! É um testemunho histórico que é surpreendentemente fluido o que contradiz a ideia disseminada por aí de que todos os clássicos são difíceis de ler. Também posso assegurar que as últimas cartas de Marguerite são fortes e chocantes e emocionam muitíssimo porque nos apercebemos contundentemente  da fragilidade humana e do pouco tempo que temos para usufruir da vida. Uma obra que merece ser lida e relida...

7/7-OBRA PRIMA

TRAILER DO FILME:

A Dama das Camélias tem inúmeras adaptações ao cinema, umas mais recentes que outras. A que optei por colocar é das mais antigas, Camille de 1936. Tem como director, o lendário George Cukor e como protagonistas Greta Garbo e Robert Taylor:


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Tim de Colleen McCullough

Mary Horton, solteira na casa dos quarenta, rica, solitária, simples, acredita que não precisa de amor nem de amizade, satisfazendo-se com a sua confortável casa, o seu jardim, com o seu Bentley e a casa de praia que comprou com o fruto do seu trabalho e dos investimentos realizados, com os livros que lê e a música que ouve sozinha.
Tim Melville, vinte e cinco anos, operário, é filho de Ron e Esme Melville, que o receberam como uma dádiva para o seu tardio casamento. Tim tem a beleza e a graça de um deus grego, mas é um simples de espírito, uma criança grande.
No entanto, Ron e Esme, modestos operários australianos, pessoas sensatas e sem ambições, gostam dele pelo que é e preparam-no para trabalhar segundo as suas possibilidades. Tim é um trabalhador insignificante de uma empresa de construção civil, infatigável e esforçado. Dias de trabalho pesado e fins-de-semana passados com o pai num pub e noites tranquilas junto da família, a ver televisão, representavam para Tim toda a sua perspectiva de vida.
Quando Mary encontra Tim e o contrata como jardineiro durante os fins-de-semana, uma ligação muito forte vai nascer entre eles. Mary sente por Tim o mesmo tipo de amor que sentiria pelo filho que nunca teve; Tim, em contrapartida, ensina-lhe a ver o mundo de uma maneira mais simples e optimista, trazendo à sua vida solitária o calor e o afecto que lhe faltavam.

A MINHA OPINIÃO:

Tim foi o primeiro livro publicado por Colleen McCullough. Ela é das minhas autoras predilectas e não havia como fugir à sua leitura. A verdade é que Tim me encantou desde o primeiro instante. A simplicidade a ingenuidade ternurenta do protagonista são refrescantes. Com ele aprendemos a ver o mundo com outros olhos. Às vezes,  estamos tão obnubilados pela confusão e pela inutilidade que a beleza do que nos envolve escapa-nos. Que desperdício! Tim ensina-nos a ser diferentes ou pelo menos a acreditar no que de mais singelo existe no mundo. Apesar de ter sido escrito na década de 70, o livro é muito vanguardista abordando a vida de um homem de aparência deslumbrante mas que, aparentemente ficou para sempre com uma mentalidade de criança. Tim é denominado de "mal-acabado" no livro mas, é em torno dele que todos se aglomeram. É uma personagem completa e complexa e agarra-nos com a sua inocência, com a sua forma peculiar de amar e com seus silêncios que guardam as dúvidas e temores. É ele que invoca os sentimentos mais ternos e mais genuínos em todos. À volta de Tim, Colleen McCullough constrói uma história intensa manuseando com delicadeza os contrastes, as dificuldades e o preconceito de ser diferente. Tim é, apesar das suas limitações mentais, verdadeiramente arrebatador! Mary Horton é, pelo contrário, uma mulher capaz e inteligente porém, está emocionalmente debilitada. Esconde os seus sentimentos atrás de barreiras de pragmatismo e rotina. Os dois aprendem um com o outro. Cada vitória é regozijada e cada fracasso é lamentado pelo leitor. Colleen McCullough é extraordinária porque não escolhe um caminho idílico e perfeito mas sim, um trilho de recuos e avanços como seria na vida real. Esta proximidade que se estabelece entre protagonistas e quem os lê é de tal forma afectuosa que compreendemos cada decisão e a apoiamos incondicionalmente. Tim  é maravilhosamente distinto do que tudo o que já tenha lido. Nada se equipara à doçura da escritora ao tocar nas feridas e à delicadeza com que quebra tabus e ideias pré-concebidas socialmente. É um livro que pode não alcançar o auge da escrita de A Canção de Tróia ou de O Toque de Midas todavia, é absolutamente encantador!

6/7-EXCELENTE

TRAILER DO FILME: 

Tim foi adaptado ao cinema em 1979. Piper Laurie encarnou Mary e um muito jovem Mel Gibson deu vida a Tim Mellville. Como não encontrei uma trailer decente deixo um vídeo da relação de ambos. Contém spoilers!!!


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Devaneios de Séries... The Pillars of the Earth (Os Pilares da Terra) (2010)


A MINHA OPINIÃO:

The Pillars of the Earth é uma mini-série de oito episódios produzida por Ridley e Tony Scott, exibida pelo canal STARZ nos Estados Unidos da América e baseado na obra homónima de Ken Follet. 
Quando se adapta um livro sobejamente conhecido e amado por tantos leitores há um risco compreensível de não se conseguir agradar a todos. A série também poderá granjear novos fãs literários pelo que tem de ser abordada com cuidado e como uma espécie de auto-promoção. 
The Pillars of the Earth não é completamente fiel à obra de Ken Follet e afirmo isto com a toda convicção de quem viu a aposta televisiva ao mesmo tempo que lia os livros. Todavia, não tive menos prazer a vê-la pelo contrário, surpreendeu-me pela qualidade da produção e pelas narrativas alteradas mas, contagiantes.


O elenco  é perfeito, compondo personagens tão amadas com primor. Tal como a obra literária, é ambientada à crueldade da Idade Média onde os pobres tentam sobreviver à fome e os ricos tentam sobreviver às intrigas e aos assassínios pelo poder. As histórias quotidianas de um pai, de um filho, dum frade e de um amor mesclam-se com a Guerra Civil Inglesa e a luta pela Coroa Inglesa. E a uni-los a todos, directa ou indirectamente, está a construção de uma Catedral. Majestosa e imponente, ela é o sonho de Tom The Builder que é brilhantemente interpretado por Rufus Sewell. Ele empresta à personagem firmeza, bravura e paixão. Outro actor que se destaca é Ian McShane, Waleran Bigod, clérigo de moral e acções dúbias. McShane incorpora o lado da fé corrompida e corrobora a sua missão deturpada com o lema de que os fins justificam os meios. O frade que se lhe opõe é Philip. É impossível não simpatizar com ele! Seja pela fé inabalável, pela destreza política ou pela competência do actor Mathew McFadyen, Philip é dos que mais captaram a minha atenção. Outro desviador de atenções é Eddie Redmayne, Jack The Builder. A sua interpretação cresce ao longo de toda a minisérie assim como a sua personagem. O duo de irmãos fictícios Richard (Sam Caflin) e Aliena (Hayley Atwell) é detentor de cenas poderosas na aflição ou na luta. Richard é das personagens que mais difere do livro. Entendo a opção dos argumentistas de armá-lo de mais coragem e sentido de responsabilidade porque assim se tornou mais agradavelmente heróico. Houve momentos no livro em que me apeteceu sacudi-lo para acordá-lo do marasmo e apatia em que se encontrava. William Hamleigh de David Oakes é desprezível, atormentado e o actor também merece uma palavra de apreço pelo seu trabalho.


No entanto, quem me fascinou irremediavelmente não foram os actores foi Trevor Morris, o compositor da banda sonora. A melodia é épica e vibrante aquele final é simplesmente fenomenal com a imagem portentosa da catedral em perfeita simbiose com o trecho musical. The Pillars of the Earth é uma excelente série mas desengane-se quem espera uma cópia fidelíssima à obra que lhe deu origem pois, não o vai encontrar. As directrizes principais estão lá porém, há pormenores que são distintos. Vale a pena ler o livro e vale a pena ver série! São os dois excelentes!

TRAILER DA MINISÉRIE: