sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Uma longa viagem com António Lobo Antunes de João Céu e Silva

No armazém onde escreve, António Lobo Antunes alimenta-se da difusa claridade do criador premiado e com sucesso em todo o mundo mas, ao mesmo tempo, gasta-se na escuridão do homem marcado pelas vaidades que protagonizou no passado, por um dia de violência que não esquece em Angola e pela ausência de uma paixão que o cegue para a eternidade. Houve momentos suaves nestes meses de bastante conversa, mas não muitos, porque as suas confissões resultam do verdadeiro conflito que mantém com a vida, da contínua dificuldade em ouvir o que as vozes da literatura lhe dizem e da necessidade de deixar registado um trabalho inigualável quando comparado com os escritores contemporâneos. Ao longo desta viagem, António Lobo Antunes sorriu e chorou, contou segredos e anedotas, blasfemou e perdoou, foi cruel com quem não se espera, nada simpático com os autores de bestsellers, deixou ver como concebe um livro do princípio ao fim, confessou o medo de um dia ser incapaz de iniciar um romance, desabafou sobre o amor falhado com a mulher da sua vida, radiografou as relações com a família, revelou o pânico de voltar a sofrer com o cancro, explicou porque é que já não espera quase nada dos anos que lhe falta viver e assumiu que as tendências suicidas ainda não o abandonaram. Uma entrevista que foi uma longa-metragem dos muitos medos e das poucas alegrias que fazem de António Lobo Antunes o único autor português que só vive para o ofício da escrita, mesmo que à beira do apocalipse pessoal.Uma Longa Viagem com António Lobo Antunes será, a partir de agora, o retrato mais verdadeiro do escritor que sempre se proibiu de contar toda a sua verdade.

A MINHA OPINIÃO:

Este livro reúne essencialmente, quase três anos de conversas entre João Silva e António Lobo Antunes. Ao lê-lo não consegui evitar cair na monotonia. O esquema pergunta-resposta que se prolonga por todo a obra é o principal responsável. Embora seja um retrato cru e fiel de Lobo Antunes, uma pessoa singular, esta viagem de diálogos é demasiado longa para mim. Confesso que nunca li um livro com este esquema... talvez por causa disso não o consegui apreciar totalmente.É muito diferente do que aquilo que costumo ler. Mas, apesar deste percalço fiquei fascinada com António Lobo Antunes. É frontal, de uma requintada sagacidade e não tem pudores... Passei a admirar o homem que vive com o escritor. Não sei se me faço entender... Lobo Antunes não se coíbe em falar de tudo. E quando digo de tudo é mesmo de tudo. Da família, dos livros, dos amigos, do panorama actual português e internacional e do cancro de que padece. Houve momentos verdadeiramente supreendentes para mim como a confissão de vários pensamentos suicidas e outros verdadeiramente esclarecedores. É um livro que me custou a ler porém, ver Lobo Antunes totalmente desprovido de preconceitos e barreiras foi uma experiência nova e uma contribuição para a minha pequena maturidade literária.
EXCERTOS:

"Quando não está a escrever, sente-se a enganar o mundo?
Não. Sinto uma certa culpabilidade, como se me tivessem dado uma coisa e não estivesse a transmiti-la."
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"Ser escritor é um título muito grande!"
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"No outro dia disse que o escritor antes dos trinta anos não tinha maturidade para escrever...
É possível escrever poesia, mas para escrever isto ( um romance) é preciso ter vivido primeiro."
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"O que me irritava e o que me tornava o cancro insuportável-cancro...a palavra é horrível-era ele estar dentro de mim, porque se ele estivesse fora eu podia agarrar numa metralhadora G3. Mas não, eu estava na mão dos médicos, não podia lutar a não ser através da vontade da viver e do desejo de ultrapassar a situação, mas não podia fazer nada. Essa parte era horrível, a impotência perante isso é que era horrível."
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"Um amigo fica sempre dentro de nós, não é? E a dor permanece.(...) E um amigo é uma pessoa que nos faz sofrer(...)"
PS: Obrigada ao site Segredo dos Livros por esta oportunidade!

5 comentários:

  1. Olá Jojo.Passei por aqui para te dizer que podes pegar o teu selo das visitas e oferecê-lo às tuas (lê o upload).
    Completamente à parte, tenho pc novo, e reparei agora que não consigo ver as imagens dos blogues :(. Tenho de ir tratar disto e instalar o que falta instalar. Lol
    Bjs e volta sempre.

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  2. Por tudo o que li de ALA, sei que suas respostas para o entrevistador foram todas analisadas para o efeito público, ALA não dá ponto sem nó.
    De sua arrogância todos conhecem, de sua falta de educação idem, acha que é um grande Deus onipotente, não fazendo parte do mesmo mundo que todos nós.
    Vai continuar a correr atrás do grande Saramago, tentando diminuir-lhe as fantásticas obras.
    Quanta inveja e mesquinhez!
    Nelson

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Olá Nelson!
    Realmente há opiniões de Lobo Antunes que eu abomino como as críticas ao trabalho de Saramago que eu adoro. Mas ele ao criticar Saramago está a se contradizer porque neste livro ele diz que não existem livros maus. São todos bons e ele não têm autoridade para os satirizar...
    E depois há outras coisas que ele afirma que eu não concordo muito.
    Sinceramente, nunca li nada de Lobo Antunes. Contudo, como ouvi falar tanto dele, decidi ler esta obra para ver se o conseguia decifrar.

    Obrigada por partilhares a tua opinião... Admiro pessoas que são frontais e não têm medo de dizer o que pensam.

    Bjinhos*

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  5. Eu sinceramente não tenho muita curiosidade sobre este livro...

    Parece-me muito monótono (como dizes). Bah

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