sábado, 10 de agosto de 2013

Sputnik, meu Amor de Haruki Murakami


Um jovem professor primário, identificado apenas pela inicial “K”, apaixona-se por Sumire, uma jovem aspirante a escritora. Quando esta entabula uma relação com Miu, uma enigmática mulher de meia idade que a emprega como secretária, K é relegado para o ingrato papel de confidente. Sumire, porém, estando de férias numa ilha grega em companhia de Miu, desaparece misteriosamente, e K é chamado para ajudar nas buscas. Um estranho triângulo que oferece uma profunda reflexão sobre solidão, sobre os sonhos, sobre as aspirações do indivíduo e a necessidade de os adaptar à realidade.

A MINHA OPINIÃO:

Há algo de muito especial nas obras deste autor! Sputnik, meu amor é um exemplo perfeito da mestria do escritor. É um livro estranho e que quase flutua de tão etéreo que é, no entanto, não deixa de nos tocar profundamente. A base surrealista de Murakami que sustenta toda a sua obra é, mais uma vez, poética e transformista. Uma história aparentemente vulgar e banal é metamorfoseada em personagens diferentes do comum mas, ainda assim são atingíveis ao simples leitor. O escritor apela ao lado emotivo do espectador destas vidas através de um sentimento ou de um pressentimento que facilmente os une. Neste caso, é a solidão. Sumire, Miu e K, o narrador, vivem numa espécie de triângulo de relações. Apesar de estarem sempre em contacto uns com os outros, não conseguem ultrapassar a barreira que os impede de ser mais íntimos e de matar a solidão que os consome. É um livro que se tornaria aborrecido e até estúpido se não tivesse um toque de fascínio que nos prendesse as suas páginas. Esse apego provém da prosa fluida e melodiosa de Murakami que parece espelhar a nostalgia das personagens. Há descrições simplesmente maravilhosas das ilhas gregas, fisicamente visíveis, porém, as mais marcantes são sobre a alma e o coração, invisíveis ao mais distraído e ao menos curioso.  Claro que a história está pejada de acontecimentos inusitados ou não fosse este um livro de Haruki Murakami. Estas "pontas soltas" são o que mais atrai nas suas obras porque me deixam na expectativa, obrigam-me a pensar num futuro incerto ou no porquê de ali estarem. É daquelas situações que podem frustrar alguns leitores mas, também permitem reflectir no além das palavras, naquilo que está escondido por metáforas, símbolos ou sinais. O início da história marca pela confusão que suscita em admiradores do escritor pelo défice de estranheza. A reviravolta surreal surge pouco tempo depois e o que se assemelhava a uma leitura linear é completamente reinventado num original e viciante conto de três pessoas anormais na sua normalidade. Sputnik, meu Amor não se equipara  à grandeza de Kafka à Beira Mar ( que ainda hoje povoa os meus pensamentos!) contudo, é belíssimo na sua tragédia ou na sua felicidade dependendo de como o interpretemos.

6/7-EXCELENTE

15 comentários:

  1. É essa "base surrealista" que eu adoro em Murakami. Adoro, adoro, adoro.
    No que respeita aos escritores contemporâneos,eu era um fanático de Paul Auster até conhecer Murakami. De maneira que depois de devorar os Auster's todos devorei os Murakamis num abrir e fechar de olhos :)
    Esse fantástico é tão real! E o talento que ele tem para nos agarrar à leitura. É um dos maiores génios narrativos de toda a história da literatura.

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    1. Manuel, o surreal também é o que me fascina em Murakami. No Kafka à beira mar é absurdamente viciante! Adoro como ele usa o bizarro ou o estranho ( gatos que falam, meias-sombras) para mostrar o quanto nos questionamos, o quanto não nos conhecemos e o quanto percorrermos na procura do nosso "eu".

      Ainda não conheço Paul Auster. Está na minha prateleira há imenso tempo mas, ainda não o li.

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    2. Os gatos têm sempre um papel especial em Murakami. Eles representam o mistério mas também uma força de personalidade muito vincada.
      Em relação ao Auster, quando puderes tenta "As loucuras de Brooklin". Tenho a certea que vais gostar. Ou não...
      beijinhos

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    3. Obrigada pela sugestão Manuel.:)
      Beijinhos*

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  2. Ainda no outro dia lhe peguei e tive para o comprar, mas a sinopse nao me chamou minimamente.
    Depois de ler a tua opinião, deu me a impressão que é um pouco pesado e eu agora estou numa de leituras leves, de verão.

    Pergunta: não usas paragrafos?

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    1. Inês, não é um livro leve. Parece que é simples mas, tem muito que se lhe diga.

      Quanto ao parágrafos tem haver com a configuração do blogger, sempre dou um parágrafo, ele manda o texto quase 2 metros para baixo.Mas tem dias... Há dias que não me acontece isso. :S

      Beijinhos*

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  3. Gostei muito desse livro. É muito leve e fácil de ler. Até as coisas mais estranhas têm sempre uma explicação muito simples. Só mesmo o Murakami

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Gostei muito deste livro de Murakami, e embora não seja aparentemente um livro do outro mundo, existe um magnetismo à sua volta que prende o leitor e no final ficamos muito sinceramente a pensar.... tanta coisa é de facto um livro desinquietante e um autor a repetir, vezes sem conta.
    Faço também minhas as palavras do Manel, não sei se conheces Paul Auster (creio que sim) os seus "Palácio da Lua" e "O Livro das Ilusões" são fenomenais, são os meus preferidos.
    Beijinhos Jojo e boas leituras.

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    1. Olá Nuno,
      desinquietante... eis uma palavra que define este livro na perfeição.
      Conheço Paul Auster só de nome ou seja, nunca li nada dele. Mas alguns dele na estante.

      Beijinhos*

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  6. Parece ser um livro bem interessante, mas olhando inicialmente não é o tipo da leitura que me atrai. Vou anotar aqui para olhar futuramente e ver se mudo de opinião.

    Parabéns pelo blog, gostei e vou seguir.

    Abraços

    reaprendendoaartedaleitura.blogspot.com.br

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  7. Olá Jojo,

    Este foi um livro que li graças às promoções (que saudades) da revista Sábado. Devo dizer que li livros bem melhores dessa coleção, desde o Padrnho, ao Apanhador de Conchas, Casa dos Espíritos, O Historiador entre outros, ainda assim gostei deste livro, mas não o achei assim nada de extraordinário.

    Se tudo correr bem este mês ainda conto ler o seu livro "O Impiedoso País das Maravilhas e o Fim do Mundo", espero vir a gostar mais que este.

    Bjs e boas leituras :)

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    1. Olá Fiacha,
      eu também adoro o Historiador e os Apanhadores de Conchas mas não me obrigues a escolher entre os três.
      Este livro não é o meu favorito do Murakami. É o Kafka à beira mar. Mas este não deixa de ser uma boa leitura.

      Beijinhos*

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