terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Devaneios do Convidado... Aproveita o Dia de Saul Bellow


Ano novo, rubrica nova! Hoje é dia de inaugurar uma nova secção nos Devaneios da Jojo.  Chama-se Os Devaneios da/o Convidada/o e aqui vão apreciar outras críticas que não as minhas. Em princípio, só vou convidar não- bloggers para este espaço. Quero assim dar um pouco de diversidade ao blogue. A primeira opinião está já aqui:


O decadente sedutor Tommy Wilhelm chegou ao dia da verdade e está assustado. Aos quarenta anos, retém uma impetuosidade meio infantil, o que o levou à beira do caos: está separado da mulher e dos filhos, perdeu o emprego de vendedor, não se entende com o seu vaidoso e rico pai, a sua carreira em Hollywood foi um fracasso (um agente de Hollywood classificou-o como "o tipo que perde a rapariga") e a sua situação financeira é péssima. No decorrer de um dia decisivo, durante o qual passa em revista os seus erros passados e descontentamento espiritual, um impostor misterioso e filósofo oferece-lhe um momento glorioso de verdade e compreensão, além de uma última esperança.

Saul Bellow foi o único escritor a vencer o National Book Award por três vezes, tendo sido galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1976.

A OPINIÃO DO CONVIDADO:

“ Aproveita o Dia” interpola o retrato interior de um fracassado e malogrado, a quem já pouco resta para perder, e a análise dissecada de uma sociedade moderna, uma maquinaria complexa, onde as engrenagens se movem como uma sina. 
O protagonista, um quarentão, descobre-se desempregado, apartado da mulher e dos filhos, em contenda com o pai e em dificuldades financeiras. De uma vivência repleta de erros e estéreis anelos, as cogitações deste homem, infantil e indeciso, inerte e influenciável, comunicando o seu passado e a sua “alma”, são, nitidamente, um ponto forte da obra, facultando uma proximidade e um entendimento, de tal intensidade, que experimentamos sensação de pena e anseio de o alentar ou acalentar. Todavia, um intrujão cede-lhe uma derradeira esperança, esse que é, de alguma forma, a personagem-chave e o mote de uma profunda explanação filosófica de uma certa sociedade ocidental que, como uma roda-viva financeira, meio morta espiritualmente, oprime o “aqui e agora”. Longe de ser inolvidável ou extraordinária, com um estilo brando e célere, esta obra, de acção desenrodilhada em somente um dia e desenlace nebuloso e miraculoso, obriga à meditação, sendo passível de transladação para a actualidade, onde esse combustível e pedestal, que é o dinheiro, sinonimiza a sociedade, nos aliena e nos controla e onde, perante cenários de crise e entropia, o homem moderno é um retrato da antevisão diante do precipício, parcamente dotado pela experiência da vida de armas para o suplantar. 
Citando a Academia Sueca, legitimando o Nobel atribuído, "por sua humana compreensão e subtil análise da cultura contemporânea", abrevia-se a percepção deslindada que esta reflexão, em “Aproveita o Dia”, procura transmitir.

André Travessa (22 anos) 
- Estudante de 5 º ano de Mestrado Integrado de Medicina da Faculdade de Medicina de Lisboa

PS: Obrigada André por cederes a este capricho "desmiolado" da tua irmã equivalente!

2 comentários:

  1. Ois Jojo,

    Parabéns pela iniciativa, uma excelente ideia e que quanto a mim teve um excelente resultado, assim continue ;)

    BJS

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada Fiacha,
      já tenho uma opinião por encomenda para o próximo mês.

      Beijinhos*

      Eliminar